segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
a loira e a montanha (narrativa-continuação)
em cinco ou dez minutos de corrida, o jovem alcançou o centro da pequena cidade litorânea. era um domingo, ele conseguiu se lembrar, e as pessoas que superlotavam o lugarejo começavam a acordar. e acordando iam comprar pão, iam até a praia, iam ligar seus carros de som. o barulho e o excesso de pessoas faziam sua cabeça trepidar quase que literalmente, mas seu objetivo se mantinha claro em sua mente. ele precisava encontrar, precisava ver, precisava falar, e principalmente precisava... então ele viu. a jovem de cabelos loiros parada ao lado de um golf branco esbanjava poder e beleza simplesmente por ali estar, inerte. sem falar, sem se mover, a simples noção de sua existência fazia saber ao mundo que ainda havia beleza, e que boa parte estava com ela. o sol refletia em seu cabelo e em seu corpo bronzeado de tal maneira que o jovem perdeu o resto do folêgo que lhe sobrara após a corrida, e sem perceber ele atravessava a rua zumbificado. foi quando os olhos azuis da moça fitaram diretamente os seus, e, de repente, mais lapsos de memória invadiram sua consciência. "Merda" pensou ele enquanto se virava para o outro lado, ele tinha que sair dali. não deu tempo. uma latinha de cerveja zuniu a poucos milimetros do seu ouvido e explodiu no muro atrás dele. "SEU FÉLA DA PUTA". "merda, merda, merda" pensou ele, se virando de volta para o lado da garota. por um instante ele achou que dois caras grandes vinham em sua direção. ledo engano. um brutamonte digno dos mais ferozes ringues de vale tudo marchava quase fazendo o chão tremer ao seu redor. enquanto decidia para que lá correr, ele foi acometido por um lapso de memória: - acabara de chegar na festa com os amigos e já tomara algumas boas doses de vodka. uma loiraça dançava cada vez mais perto dele, que também se apróximava. não planejava ficar com ninguém aquela noite, mas tirar uma casquinha não era pecado. a moça se exibia descaradamente, "tão bonita e tão devassa, meu Deus", ele pensava. alguma coisa pesada lhe acertou o ombro, e ao se virar ele deu de cara com uma parede de músculos que indagava o que ele 'tava pensano' e 'quálera dele'. antes que ele formulasse uma desculpa convincente, a loiraça o virou e roubou-lhe um beijo tão intenso e tão rápido que o embriagou mais do que toda a Absolut consumida. o que aconteceu a seguir foram os instantes mais demorados de sua vida. o homem que mais parecia um touro o puxou com uma mão enquanto desferia um golpe com a outra. o jovem se esquivou, talvez auxiliado pelos deuses da vodka. num acesso de coragem, desferiu um direto com seu braço livre no rosto do homem touro e sentiu sua mão rachar. imediatamente, mas não antes de fazer uma careta de espanto e dor, saiu correndo dali, rumo ao lugar onde seus amigos estavam "loira! deu em cima! namorado! grande!" e em dois minutos eles tinham saído dali e procuravam rindo outro lugar pra curtir. - e ali estava ele, constatando que por trás dos músculos, das roupas de marca e do dinheiro do seu pai, aquele brutamontes, quem diria, tinha no mínimo a capacidade de guardar fatos recentes. então ele decidiu pelo improvável, o insano. talvez por não querer ser um covarde, talvez porque suas pernas não se mechessem, talvez porque tivesse vontade de morrer de uma vez por todas, ele resolveu parar e esperar. enquanto ele pensava na besteira que falara na noite anterior, o brutamonte atravessava a rua com sua cara de ira impecavelmente imbecil. mas, olhando a luz do sol, sua cara imbecil parecia estranhamente familiar.
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Interessante, divertido e muito bom. Quero mais *-*
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