sábado, 18 de junho de 2011

carinho

eu sei que daqui a um tempo, pouco tempo, vai ser bem mais difícil te ver me chamando de chato ou me mandando ir pra uma porra. não sei porque, acabei de perceber que isso é importante pra mim. não é que eu não goste de ouvir "eu amo você", mas eu prefiro te ver me xingando todo dia do que te ver dizendo que me ama dizendo de vez em nunca. porque eu sei que "chato" quer dizer "amigo" e que "vai pra uma porra" quer dizer "fique aqui comigo", e "lindo" quer dizer "eu fiz uma merda muito grande, por favor, me desculpe". e agora, pensando no que era a rotina, eu percebo que vou ouvir mais "eu to com saudade" do que "bom dia" da sua parte. mas nem por isso eu vou chorar e correr pra te abraçar e segurar a sua mão e sentar do seu lado pra assistir o por do sol numa praia da california. você sabe, não é assim que a gente funciona. existem cicatrizes que provam isso. e, aturando suas unhas e dentes e choros e desabafos e risos e tapas, eu vou estar sempre contigo. sabendo o que você pensa enquanto tá calada, me queimando em ciumes enquanto você fala dos seus peguetes, criticando até o fim o seu gosto musical, duvidando até a morte da sua capacidade de tirar a CNH. porque, assim como dizer "não vá embora" não vai te fazer ficar, eu não preciso te ver todo dia pra gostar de você, nem preciso ouvir "eu te amo" pra saber que é verdade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

paciência

papai,eu não quero mais saber. me encheu até as tampas esse puritanismo hipocrita. me encheu até as tampas essa alienação voluntária. eu pensei em fugir pra praia, pro hawaii ou pra outra praia tropical qualquer, pra nunca mais usar camisa nem cueca e viver de sol e mar e reggae, com um violão e um culelê e uma prancha e uma garrafa de vodka ou de tequila, mas minha consciencia me doeu. pensei em fugir pro mato, pra alexandria ou pro interior de mato grosso, pra nunca mais usar tênis nem carro e viver de estrelas e ar e passarinhos, com uma viola e uma sanfona e um cavalo e uma garrafa de cachaça ou de vinho, mas minha consciência me doeu. pensei em fugir pro deserto, pro sertão ou pro texas, pra nunca mais usar xampú nem bermudas, e viver de estrada e brigas e rock 'n' roll, com uma guitarra e uma espingarda e uma harley davidson e uma garrafa de uisque ou de cerveja, mas minha consciencia me doeu. se abster não é solução, papai, mas não dá pra lutar contra o sistema. pelo menos não seguindo as regras. por isso, papai, carregue sua .38. eu vou precisar daquele bastão de baseball, daquelas correntes e de toda sua gasolina. e me de esse machado. me de aqui esse machado, papai, que eu vou resolver isso. o mundo lá fora me espera e minha consciencia não pode ficar esperando pela ordem natural das coisas.